🙋🏾♂️ Chega para você paciente 67 anos, previamente hipertenso, diabético, portador de doença renal crônica dialítica, apresentando mal estar inespecífico, e fraqueza difusa.
SINAIS:
PA: 135x56mmHg, FC: 85bpm, Sat: 99% em AA, glicemia: 125mg/Dl, FR: 19irpm
Logo que o paciente é monitorizado você repara no padrão bizarro dos complexos QRS.
E agora?
Paciente estável, você solicita um ECG de 12 derivações.
Paciente refere que precisou viajar para uma cidade próxima na última semana e por isso não se apresentou a sessão de diálise, e agora se sentia muito fraco para ir a clínica, por isso procurou a emergência do hospital.
- Por um momento você tinha pensado em TV estável e avaliado as possibilidades terapêuticas (amiodarona ou CV elétrica?)
- Mas observando melhor, você percebe que a FC está muito baixa para uma TV, que quase sempre se apresenta com FC maiores que 120, além de que o QRS é muito muito largo, mais do que 200ms, o que não é comum na TV.
- Com esse quadro clínico a principal hipótese passa a ser um paciente com HiperK severa!
Você solicita os exames laboratoriais, mas já começa o tratamento:
-> 1grama de gluconato de calcio IV (1 amp de 10ml em SF 100ml, correr IV em 5 minutos) -> inicio de ação 3 minutos, duração de 20 a 60minutos. Pode ser repetido até 3 vezes.
-> 100ml de Bicarbonato de cálcio (pela probabilidade de acidose metabólica associada)
Em 15 minutos chega sua gasometria:
pH 7,1 HCO3: 6 K: 8,5
O traçado QRS vai normalizando.
Você aciona a equipe da nefrologia e inicia as medidas para HiperK.
-> Inalação com beta2 agonista: fenoterol 10gotas de 4/4h, inicio de ação é de 20 a 30 minutos, com duração de até 2h
-> Glicoinsulina -> Insulina R 10 a 20 unidades + Glicose 25g (SG50% 50ml) : inicio de ação menos que 15minutos, duração de 2horas. (Monitorizar glicemia antes e depois)
-> Furosemida 1 amp IV (avaliar estado volêmico e se o paciente produz urina)
-> Resina de troca intestinal: Sorcal (risco de constipação, isquemia intestinal), diluir com laxante
Tudo preparado para iniciar a diálise em 2horas.
Referencias:
-> Medicina de Emergencia: Abordagem prática, 12 edição, Cap 84 Hipercalemia
-> emDocs Cases: Updates in Managemente os Hyperkalemia, 24/07/17, por Brit Long, MD http://www.emdocs.net/emdocs-cases-updates-management-hyperkalemia/
———————————
HIPERCALEMIA e ECG
Hipercalemia é definida como nível de potássio> 5,5 mEq / L
Hipercalemia moderada é quando o potássio sérico> 6,0 mEq / L
Hipercaliemia grave é um potássio sérico> 7,0 mE / L
O potássio é vital para regular a atividade elétrica normal do coração. O aumento do potássio extracelular reduz a excitabilidade miocárdica, com depressão tanto do marcapasso quanto dos tecidos de condução.
A piora progressiva da hipercalemia leva à supressão da geração de impulsos pelo nodo sinoatrial e à redução da condução pelo nó AV e pelo sistema His-Purkinje, resultando em bradicardia e bloqueios de condução e, por fim, parada cardíaca.
Efeitos da HiperK no ECG:
-> Potássio > 5,5mEq/L é associado com anormalidades da repolarização:
—> Ondas T apinceladas (geralmente a alteração mais precoce da hipercalemia)
-> Potássio > 6,5mEq/L é associado com paralisia progressiva do átrio:
—> Onda P alarga e se torna achatada
—> segmento PR aumenta
—> Ondas P eventualmente desaparecem
-> Potássio > 7,5mEq/L é associado com anormalidades da condução e bradicardia:
—> Prolongamento do intervalo QRS com morfologias bizarras do QRS
—> Bloqueio AV de alto grau com ritmo funcional lento e ritmo ventricular de escape
—> Qualquer tipo de bloqueio de condução (bloqueios de ramo ou fascinares)
—> Bradicardia sinal ou Fa de baixa resposta
—> Desenvolvimento de uma aparência de onda senoidal (um ritmo pré-terminal)
-> Potássio sérico > 9,0 mEq/L causa parada cardíaca por:
—> Assistolia
—> Fibrilaçao Ventricular
—> AESP com complexos QRS bizarros e alargados
EM RESUMO:
ECG na HiperK
- Ondas T apiculadas
- Segmento PR prolongado
- Perda das ondas P
- Complexos QRS bizarros
- Onda senoidal
Dicas:
Suspeite de hipercalemia em qualquer paciente com uma bradiarritmia nova ou bloqueio AV, especialmente pacientes com insuficiência renal, em hemodiálise ou tomando qualquer combinação de IECAs, diuréticos poupadores de potássio e suplementos de potássio.
Tradução livre por Jule Santos de: Hyperkalaemia, por Dr Ed Burns, in Life in the Fastlane, https://litfl.com/hyperkalaemia-ecg-library/