DESFIBRILADOR: PREPARA PRA CHOCAR!

Você está no seu primeiro rodízio do internato na emergência, quando vê uma movimentação na sala vermelha, e alguém grita: Parada!

Você se aproxima animado para aprender e ajudar com a reanimação cardiopulmonar. O Staf olha pra você e pergunta: Você sabe usar o desfibrilador?

O que você responde?

É importante conhecer as principais funções do desfibrilador e estar acostumado com o modelo do seu hospital, para que na hora da emergência já esteja pronto para ajudar com segurança. 

Os Desfibriladores são aparelhos usados para aplicar energia de forma manual ou automática. Indicado para cardioversão elétrica, desfibrilação ou como marcapasso transcutâneo. 

Aqui um vídeo com um resumo das principais funções:

Principais funções do desfibrilador

Desfibrilação x cardioversão

A desfibrilação e a cardioversão são técnicas em que se aplica uma corrente elétrica no paciente, através de um desfibrilador, para reverter uma arritmia cardíaca.

⚡️⚡️DESFIBRILAÇÃO: Através de uma descarga elétrica contínua NÃO sincronizada, aplicada sobre o torax, que despolariza todas as fibras musculares do miocárdio, literalmente re-iniciando o coração, permitindo assim ao nó sinoatrial retomar a geração e o controle do ritmo cardíaco, causando a reversão de arritmias graves como TV (taquicardia ventricular) e FV(fibrilaçao ventricular). Indicação: Durante a RCP.

⚡️⚡️CARDIOVERSÃO ELÉTRICA: Aplicação do choque elétrico de maneira SINCRONIZADA, nessas situações deseja-se que a descarga elétrica seja liberada na onda R, ou seja, no período refratário. Evitando-se que o choque seja aplicado em um período vulnerável, isto é, durante a onda T, pois isso pode desencadear uma FV. Indicação: Arritmias graves, no paciente instável com pulso. Geralmente procedimento eletivo.

SITUAÇÕES ESPECIAIS: 

💊INTOXICAÇÃO DIGITÁLICA: A intoxicação digitálica pode se apresentar com qualquer tipo de taquiarritmia ou bradiarritmia. Cardioversão nessa situação é uma contra-indicação relativa, pois o digital deixa o coração sensibilizado ao estimulo elétrico. Antes de se considerar a cardioversão, corrigir todos os distúrbios hidroeletroliticos, pois a cardioversão nessa situação pode degenerar o ritmo para uma FV.

🤖MARCAPASSO/CDI: pode ser realizada a cardioversão, porém com cuidado. Técnica inadequada pode danificar o gerador, o sistema condutor, ou o músculo cardíaco, levando a disfunção do aparelho. As pás devem ser posicionadas a pelo menos 12cm do gerador, de preferencia na posição antero-posterior. E tentar usar a menor carga elétrica possível.

👩‍👦GRAVIDEZ: a cardioversão pode ser usada com segurança durante a gravidez. O batimento fetal deve ser monitorado durante todo o procedimento.

Conheça o seu dispositivo:

Mantenha seus dispositivos testados!

– Trabalhar no setor de emergência não é fácil. Este é o lugar que organização e preparação devem ser rotina. Checagem constante de materiais e funcionamento de equipamentos devem ser lei. Pois o mínimo detalhe pode ser a diferença em se salvar uma vida. 

– Durante as adversidades é necessário manter a calma, tentando-se ñ afetar o raciocínio e a disposição da equipe. É um oficio árduo, necessita de prática e muito esforço. Os erros só podem ser corrigidos após serem reconhecidos e devem ter o momento certo para serem expostos. Acontece.

– Ñ há tempo para desespero, gritaria e estresse na hora da RCP.

No caso de faltar gel condutor, o que podemos fazer?

As principais orientações quanto ao uso do gel condutor usados nas pás do desfibrilador são: 

– É necessário usar o gel próprio para este fim. O gel é um material condutor de eletricidade que diminui a resistência ao fluxo da corrente elétrica entre a pá e a parede torácica. A ausência de material condutor pode levar a produção de um arco voltaico que causa queimaduras no paciente, risco de explosão se houver fonte de oxigênio muito próxima, entre outros.

– Evitar o uso de gaze embebido em solução salina, pois o excesso de soro pode causar queimadura na pele do paciente, mas é uma opção razoável, na urgência

– Ñ usar o gel do ultrason

– A preferência é usar pás adesivas bem aderidas à superfície tórax que já vêm com gel condutor próprio.

Localização preconizada pelo ACLS:

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  • Antero-lateral: Uma pá é colocada do lado direito do esterno, bem abaixo da clavícula e a outra lateralmente onde seria o apêndice cardíaco na linha axilar anterior ou médica (V5-V6).
  • As pás adesivas também podem ser colocar Antero-posterior: a anterior é colocado no apêndice cardíaco ou região precordial, e a posterior é colocada no dorso na região infraescapular direita ou esquerda.

Durante a aplicação do choque, ninguém pode estar em contato do paciente, uma força de aproximadamente 8k deve ser empregada para aumentar o contato das pás com o torax. Não deixar fluxo continuo de oxigenio sobre o torax do paciente para evitar acidentes com faiscas.

Complicações:

  • Arco elétrico (quando a eletricidade viaja pelo ar entre os eletrodos e pode causar barulhos explosivos, queimaduras e prejudicar a entrega da corrente)
  • Lesões elétricas em expectadores
  • Risco de explosão se tiver um fluxo de oxigênio continuo durante o choque
  • Queimadura da pele por choques repetidos
  • Lesão miocárdica e arritmias pós-desfiriliçao e atordoamento miocárdico
  • Lesão da musculatura esquelética
  • Fratura de vertebras torácicas 

Referências:

  1. UptoDate
  2. Sunde, Kjetil et al. “Part 6: Defibrillation: 2010 international consensus on cardiopulmonary resuscitation and emergency cardiovascular care science with treatment recommendations.” Resuscitation vol. 81 Suppl 1 (2010): e71-85. doi:10.1016/j.resuscitation.2010.08.025
  3. Panchal, Ashish R et al. “Part 3: Adult Basic and Advanced Life Support: 2020 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care.” Circulation vol. 142,16_suppl_2 (2020): S366-S468. doi:10.1161/CIR.0000000000000916
  4. Defibrillation Basics, Úna Nic Ionmhain, Nov 3, 2020 em: https://litfl.com/defibrillation-basics/
  5. Cardiac Arrest, The Science and Practice of Resuscitation Medicine, 2nd Edition, Norman A. Paradis, University of Southern California, Henry R. Halperin, The Johns Hopkins University School of Medicine
  6. Defibrillation Pads and Paddles, Chris Nickson, Nov 3, 2020, em https://litfl.com/defibrillation-pads-and-paddles/

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