A SCA(Síndrome Coronariana Aguda) com a presença de BRE (bloqueio de ramo esquerdo) agudo é RARO e difícil de diagnosticar, é necessário a avaliação dos parâmetros do ECG (tamanho e direção do QRS) e para isso você pode usar Os Critérios de Sgarbossa Modificado.
A maior parte dos pacientes com BRE já tem essa alteração de forma crônica, por doenças de base estáveis.
A questão é tratamos ou não tratamos BRE novo ou presumivelmente novo como IAMCST? E como isso afeta o tratamento?
A resposta é: depende.
Primeiros passos:
- avaliar o quão provável é esse paciente estar infartando
- quão provável essa dor é típica de isquemia cardíaca
- quão grave o paciente está
Se você está num serviço com suporte de angioplastia percutânea primária e o paciente estiver grave (instável), dor intensa e típica com fatores de risco: iniciar o tratamento se torna mais fácil.
Mas se você está num local afastado, talvez tenha que considerar a realização do trombolítico e nessas situações ter o máximo de clareza quanto ao diagnóstico é mais seguro para o paciente.
Os pacientes que apresentem um infarto agudo do miocárdio com um Bloqueio do Ramo Esquerdo (BRE) concomitante, podem ter as manifestações eletrocardiográficas de lesão miocárdica aguda mascaradas.
Critérios de Sgarbossa Originais
Em 1996 Sgarbossa et al. identificaram três critérios que poderiam melhora o diagnóstico de IAMCST nos pacientes com Bloqueio do Ramo Esquerdo:
https://litfl.com/sgarbossa-criteria-ecg-library/
Está estabelecido que uma pontuação maior ou igual a 3 tem uma especificidade de 90% para o diagnóstico do infarto agudo do miocárdio.
E quando o paciente apresenta estimulação no ventrículo direito por marcapasso, no ECG também se observa um padrão de bloqueio do ramo esquerdo. As regras anteriores também se aplicam ao diagnóstico de isquemia miocárdica durante a estimulação por marcapasso, mas é menos específica.
No Bloqueio do Ramo Esquerdo não complicado (sem IAMCST), o segmento ST deve estar na direção oposta à maior parte do complexo QRS. Qualquer grau de elevação do segmento ST em uma derivação com complexo QRS positivo é um sinal altamente específico de infarto agudo do miocárdio.
No Bloqueio do ramo esquerdo, nas derivações V1-V3 apresentam complexos QRS negativos, portanto, nao deve existir depressão do segmento ST nas derivações V1, V2 ou V3. Uma depressão do segmento ST em apenas uma destas derivações é diagnóstico de IAMCST.
A elevação do segmento ST de, pelo menos, 5 mm nas derivações com complexo QRS predominantemente negativo indica um risco moderado-alto de probabilidade de infarto do miocárdio.
Critérios de Sgarbossa Modificados:
Em uma tentativa de melhorar a precisão, Smith et al. criaram os critérios modificados de Sgarbossa, nos quais o terceiro critério de discordância excessiva da elevação do ST é substituído por uma proporção entre a elevação do ST e a amplitude da onda S ≤−0.25 (relação ST/S)
Nas derivações com complexo QRS predominantemente positivo, este critério também é válido para a proporção entre a depressão do ST e a amplitude da onda R.
A relação ST/S é definida pela relação da elevação do segmento ST, medida no ponto J, dividida entre a profundidade da onda S:
Algoritmo diagnóstico e de triagem de Cai et al.
Antes das guidelines de 2013 de Infarto agudo do miocárdio com elevação do ST da ACCF/AHA, todos os Bloqueios do Ramo Esquerdo novos ou presumivelmente novo, deviam ser considerados como um equivalente a um IAMCST. As guías de IAMCST de 2013 realizaram uma mudança drástica eliminando essas recomendações, portanto, os pacientes em que se suspeite isquemia e que apresentem um Bloqueio do Ramo Esquerdo novo não seriam tratados como um equivalente de IAMCST
Por esta razão Cai et al. propuseram um novo algoritmo para diagnóstico e triagem
Algoritmo diagnóstico e de triagem de Cai et al. 6.
Se o paciente apresenta instabilidade hemodinâmica ou insuficiência cardíaca existe uma alta suspeita de que seja de causa isquemica, e a Angioplastia primária deve ser considerada. Os critérios de Sgarbossa são particularmente úteis nesse contexto devido a sua elevada especificidade e a seu elevado preditivo positivo.
Os médicos podem tratar como IAMCST com toda a confiança quando a pontuação de Sgarbossa alcance os 3 pontos (sempre que estiverem presentes o primeiro ou o segundo criterio).
Naqueles pacientes com pontuação ≤2, uma proporção ST/S de -0.25 ou menor poderia identificar com maior segurança quais se beneficiariam de uma terapia de reperfusão urgente.
Se nenhum desses critérios se cumprem, não se pode estabelecer o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio e esses pacientes devem ser avaliados posteriormente com ECG seriados, biomarcadores específicos seriados e ecocardiograma.
De qualquer jeito: não custa nada relembrar que um diagnóstico de IAMCSSST “perdido” tem grande impacto na mortalidade desse paciente. O ideal é permanecer à beira do leito nos casos suspeitos, atento a qualquer mudança, além de rodar eletrocardiogramas e dosar biomarcadores cardíacos de forma seriada.
Se disponível no momento, um ecocardiograma transtorácico à beira do leito é um excelente exame para detectar hipo/acinesias segmentares (ou seja, em um território coronariano) e, sendo assim, sugerir um evento isquêmico. Se houver anormalidade em algum desses testes (curva de troponina, eletrocardiograma e ecocardiograma), o mais prudente é procedermos com cateterismo o quanto antes, pois podemos estar, sim, diante de um infarto “com supra”.
Se todos eles vierem normais, temos mais segurança para proceder com uma estratificação não invasiva.
Quais são as recomendações da ESC sobre IAMCST de 2017 para BRE e IAMCST?
Na presença de Bloqueio do Ramo Esquerdo, o diagnóstico por ECG do IAMCST é difícil mas possível se estiverem presentes alterações marcadas do segmento ST. A presença de elevação do ST concordante parece ser um dos melhores indicadores de Infarto Agudo do Miocárdio em curso com uma artéria ocluída.
Os pacientes com suspeita clínica de isquemia miocárdica aguda e Bloqueio do Ramo Esquerdo devem ser tratados de forma similar aos pacientes com IAMCST, independentemente de se o Bloqueio do Ramo Esquerdo é previamente conhecido. Mas é importante destacar que a presença de um (presumido) novo Bloqueio do Ramo Esquerdo não prediz um Infarto Agudo do Miocárdio per se .
Fonte
http://www.scielo.br/pdf/ijcs/v30n4/pt_2359-4802-ijcs-30-04-0359.pdf
http://pt.my-ekg.com/infarto-ecg/criterios-sgarbossa-modificados.html https://pebmed.com.br/iam-bre-o-que-mudou-nos-ultimos-anos/
https://www.ahajournals.org/doi/pdf/10.1161/CIR.0b013e3182742cf6
Por:
Carlos Augusto Almeida Correa
Médico formado pela Universidade de Brasília em 2004, pós-graduaçao em Terapia Intensiva pela Universidade Gama Filho 2007. Título de Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM) e certificado de atuação em Medicina de urgência (SBCM). Médico clínico geral do Hospital Regional do Gama -DF desde 2006 e do serviço médico do Tribunal de Justiça do DF, desde 2009. Preceptor do internato da Faciplac desde 2017.